Análise sensata e importante do Cezar Taurion:
A famosa citação atribuída a Albert Einstein de que duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, encontra um paralelo na era da IA. O artigo propõe uma reflexão instigante: a suposta “inteligência” das IAs generativas como ChatGPT, Gemini e Claude é, com frequência, um espelho da nossa própria ignorância. A profundeza que percebemos na máquina não está nela, mas nas limitações do nosso próprio conhecimento.
Esta ideia é uma reencarnação do clássico Efeito Dunning-Kruger no contexto digital. O fenômeno, que descreve como indivíduos incompetentes não têm a capacidade de reconhecer sua própria incompetência, agora se manifesta de forma inversa. Nossa ignorância sobre um assunto nos leva a superestimar a competência da IA. O autor define esse limite crítico como a “Borda da Estupidez” (Edge of Stupidity), uma fronteira individual além da qual a máquina parece mágica simplesmente porque nós não conseguimos enxergar seus erros.
Somos naturalmente céticos quando a IA opina sobre temas que dominamos. No entanto, baixamos a guarda diante de assuntos que julgamos entender superficialmente ou que desconhecemos por completo. O perigo é particularmente agudo para pessoas consideradas inteligentes. Um advogado, confiante em sua capacidade analítica, pode aventurar-se em um texto de física quântica gerado por IA e ser incapaz de distinguir entre conceitos sólidos e um discurso coerente, mas vazio. A confiança em sua própria inteligência o torna vulnerável ao “bullshit” autoritário da máquina.
Outro pilar dessa ilusão é o Efeito ELIZA, nossa tendência psicológica de atribuir consciência e intenção a sistemas que simplesmente processam linguagem. A fluência textual desses modelos, resultado de trilhões de cálculos matriciais (multiplicações de matrizes) em dados massivos, nos engana. Nós nos impressionamos com a forma, não com o conteúdo. Quando a IA acerta, ficamos maravilhados. E quando erra e percebemos, damos um desconto. Quando erra e não percebemos, acreditamos piamente. Para a IA, toda resposta, seja um soneto ou uma equação, é apenas uma sequência de números.
A conclusão final é a de que a agência e a responsabilidade nunca saíram de nossas mãos. A Inteligência Artificial, no fim das contas, revela muito mais sobre a inteligência humana do que sobre si própria.
O link para o artigo: Preprint: Human Ignorance Is All You Need
Link para o post original: Post no LinkedIn
David Matos