A empolgação inicial em torno da Inteligência Artificial Generativa (IAG) está cedendo espaço para uma visão mais pragmática. Empresas que antes anunciavam, com entusiasmo, cortes drásticos de pessoal em nome da automação agora recuam discretamente, enquanto projetos piloto fracassados deixam claros os limites da tecnologia quando usada sem estratégia consistente.
Em 2023, o CEO da IBM, Arvind Krishna, chegou a prever a substituição de 7.800 empregos por IA. Um ano depois, a própria companhia voltou a contratar em áreas como atendimento ao cliente e recursos humanos, justamente onde a IAG prometia revolucionar. A razão é simples: os sistemas de IA não conseguiram reproduzir a sensibilidade, a nuance e a adaptabilidade humanas em situações complexas.
O caso da fintech sueca Klarna ilustra bem esse movimento. Após apostar em campanhas de marketing totalmente automatizadas por IA, viu sua comunicação tornar-se genérica e a identidade da marca enfraquecer. O resultado foi a revalorização de redatores e designers humanos para restaurar a conexão emocional com os clientes.
Em muitos setores, a pressa levou ao lançamento de chatbots descontextualizados, que frequentemente produziam respostas equivocadas ou até inventadas. Isso forçou diversas empresas a reativar call centers humanos, agora apoiados por IA. Quando o problema foge dos padrões básicos, os consumidores seguem preferindo interações com pessoas.
O erro mais comum foi encarar a IAG apenas como um mecanismo de corte de custos e não como ferramenta de inovação e colaboração. Muitas iniciativas ficaram restritas a automações isoladas, sem integração com a cultura organizacional, criando a ilusão de eficiência. Outras repetiram modelos da automação industrial, ignorando a dimensão criativa e colaborativa que a IA Generativa exige.
As consequências foram previsíveis: funcionários sentiram-se substituídos por sistemas frágeis, gerando desconfiança interna, enquanto clientes se frustraram com experiências frias e repetitivas. O marketing automatizado saturou o público com mensagens genéricas, corroendo engajamento.
Agora, a próxima fase tende a ser liderada por organizações que compreenderam seus erros e buscam alinhar a tecnologia a um propósito real. Elas percebem que a IA não é uma solução mágica, mas um recurso para ampliar a criatividade e fortalecer a colaboração.
Como toda inovação, a IAG está passando do hype para a substância. As empresas que prosperarão serão aquelas que entenderem que a IA não existe para eliminar pessoas e sim para potencializar o que só os humanos são capazes de oferecer: pensamento estratégico, originalidade criativa e construção de relacionamentos genuínos.
David Matos